O estresse relacionado ao trabalho, um dos principais fatores de risco psicossociais, é uma das principais causas da perda de produtividade e erro humano. Isso significa aumento de absenteísmo por doença, alta rotatividade e aumento dos casos de acidentes e doenças ocupacionais.
Conhecer o problema é o primeiro passo para gerenciá-lo de forma sensível, inteligente e sempre visando minimizar o impacto do estresse relacionado ao trabalho na empresa e em seus funcionários.
O processo é de ganha-ganha: a empresa com um melhor desempenho e os funcionários com mais saúde, saúde mental e bem-estar. Vamos conhecer, a seguir, os fatores de risco psicossociais e os seus custos.
O cenário nas empresas
Dentre alguns estudos e números sobre o tema, destacamos alguns dados que chamam a atenção, em especial no Reino Unido:
- cerca de 1 em cada 7 pessoas dizem que acham seu trabalho muito ou extremamente estressante;
- em 2005/2006, pouco menos de meio milhão de pessoas na Grã-Bretanha relataram que enfrentavam estresse relacionado ao trabalho em um nível que acreditavam adoecê-los;
- a depressão e a ansiedade são as queixas mais comuns relacionadas ao estresse, afetando 20% da população trabalhadora do Reino Unido;
- quando o estresse leva ao absenteísmo, o tempo médio de licença por doença é de 30,1 dias. É muito maior do que a duração média da licença por doença relacionada ao trabalho, que é em geral de 21,2 dias;
- um total de quase 11 milhões de dias úteis foram perdidos no estresse, depressão e ansiedade em 2005/2006;
- um estudo austríaco revelou que 42% dos trabalhadores administrativos (chamados de white collar) que se aposentam precocemente o fazem por causa de problemas psicossociais relacionados ao trabalho;
- no Reino Unido, em 2011 e 2012, o estresse relacionado ao trabalho levou à perda de 10,4 milhões de dias de trabalho, com tempo médio de afastamento de 24 dias.
- outros estudos mostraram que entre os funcionários que afirmaram “sempre trabalhar sob pressão”, a taxa de acidentes é cerca de cinco vezes maior que a dos funcionários que afirmaram “nunca trabalhar sob pressão”.
O impacto financeiro dos fatores de risco psicossociais
Para os indivíduos, os custos incluem perdas financeiras e despesas adicionais, tais como pagamentos de consultas médicas, medicamentos e tratamento hospitalar.
Já para as empresas, os custos relacionados a riscos ergonômicos incluem custos de absenteísmo por doença, substituição de funcionários e rotatividade, aposentadoria precoce, compensação e indenização, danos ao equipamento e à produção resultante de acidentes e erros, redução de desempenho e produtividade, comprometimento da imagem pública e da reputação da empresa.
E para a sociedade, por sua vez, esses custos incluem consultas médicas, medicamentos, hospitalizações, tratamentos ou reabilitações que são financiados pelo Estado, bem como custos relacionados a aposentadoria precoce ou absenteísmo por doença. Todos perdem.
Uma pesquisa financiada pela União Europeia estimou o custo da depressão relacionada ao trabalho em EUR 617 bilhões/ano. O total era composto de custos decorrentes de absenteísmo e presenteísmo (EUR 272 bilhões), perda de produtividade (EUR 242 bilhões), custos de saúde (EUR 63 bilhões) e custos de bem-estar social, na forma de pagamentos de benefícios de invalidez (EUR 39 bilhões).
A pesquisa analisou também o custo-efetividade de alguns programas com intervenções para depressão. Os resultados mostraram que para cada EUR 1,00 investido, pode-se gerar benefícios econômicos líquidos de até EUR 13,62/ ano.
No Brasil, dados do Ministério da Previdência Social mostram que a Previdência Social pagou em benefício auxílio-doença, no período de 2000 a 2011, um total 14,4 bilhões de reais e que 12% dos benefícios auxílio-doença foram provenientes das relações de emprego.
Os afastamentos
Outro dado da Previdência Social que chama a atenção é a causa dos afastamentos que se deslocou de doenças infecciosas e traumas para doenças crônicas não transmissíveis.
Estima-se que a depressão e outros transtornos ansiosos estão entre as quatro causas mais frequentes de afastamento do trabalho, sendo que no ano de 2013 só a depressão foi responsável por 61.044 dos casos.
As principais causas de afastamento previdenciário são:
- episódios depressivos;
- outros transtornos ansiosos;
- transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias psicoativas;
- transtorno depressivo recorrente;
- transtorno afetivo bipolar;
- transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool;
- reações ao estresse grave e transtornos de adaptação;
- transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso da cocaína;
- esquizofrenia;
- psicose não-orgânica não especificada.
Nota-se a presença de quatro grupos de transtornos entre os mais frequentes: os de humor, os ansiosos, os de uso de substâncias e os psicóticos.
Considerando a Classificação Internacional de Doenças (CID), no período de 2000 a 2011, vinte CID´s foram responsáveis por 50,17% de todos os benefícios auxílio-doença.
As doenças dos grupos M (doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo) e F (transtornos mentais e do comportamento) somaram 20,76% de todos os afastamentos, superando aquelas dos grupos S (lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas) e T (traumatismos envolvendo múltiplas regiões do corpo) que somaram 19,43% do total.
As doenças dos grupos M, F, S e T respondem por 40,25% de todo o universo previdenciário.
O estresse como fator psicossocial
Por fim, o impacto do estresse. Temos inúmeras evidencias científicas que períodos prolongados de estresse, incluindo o estresse relacionado ao trabalho, têm um efeito adverso na saúde.
As pesquisas revelam que há fortes ligações entre o estresse e efeitos físicos como doença cardíaca, dor nas costas, dores de cabeça, distúrbios gastrointestinais, entre outras e efeitos psicológicos como ansiedade e depressão, perda de concentração e dificuldade para tomada de decisão.
O estresse também pode levar a outros comportamentos com efeito adverso na saúde e no bem-estar psicológico e físico, por exemplo, isolamento social, comportamento agressivo, abuso de álcool e/ou outras drogas e distúrbios alimentares.
Ainda que o trabalho não seja a única causa, é importante reforçar seu papel de manutenção e promoção da saúde mental, um espaço de aberturas para informar e orientar os trabalhadores a respeito não só dos riscos psicossociais do trabalho como também da saúde mental, promovendo assim o bem-estar dentro do trabalho.
Invista na promoção da saúde e do bem-estar.
Artigo escrito por Eduardo Arantes, Diretor Técnico da BeeCorp.
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