Os avanços da medicina são bem evidentes a cada ano. Além do desenvolvimento de novos tratamentos e remédios, também há novas informações sobre doenças já conhecidas que ajudam em sua prevenção. Isso ficou ainda mais evidente com a publicação do CID 11, que traz um foco maior na saúde mental do que nunca.
Além de seu impacto nas práticas da medicina, essas novas definições também são úteis para lidar com questões de saúde ocupacional, uma responsabilidade que toda empresa tem com sua equipe. Não que alguns dos tópicos sejam novidade, mas agora passaram por uma revisão rigorosa e ganharam uma versão oficial.
Acompanhe e veja um pouco mais sobre o CID 11 e como ele deve impactar o ambiente de trabalho.
O que é o CID 11?
A Classificação Internacional de Doenças, também chamada de CID, é um documento publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que reúne definições e normas sobre as diferentes doenças, seus sintomas e critérios de diagnósticos. Isso vale para doenças infecciosas, autoimunes, deficiências e para dificuldades com saúde mental.
O CID 11 é a décima primeira versão desse documento, o qual passou a entrar em vigor em janeiro de 2022. Além de definir quais doenças são reconhecidas pela OMS, também tem vários dados sobre cada uma delas, suas formas de manifestação e sua proliferação em diferentes partes do mundo. Por isso é tão usada como referência por médicos e pesquisadores.
Além de trazer novas doenças descobertas, novas versões também revisam o conhecimento já estabelecido sobre várias condições. Algumas mudam de classificação, recebem novas orientações ou são removidas por completo.
Para facilitar o acesso, o CID é publicado online e está disponível em várias línguas. Seus dados de pesquisa também são atualizados regularmente, para que qualquer profissional de saúde tenha um panorama claro e global de qualquer doença.
Quais foram as principais mudanças no CID 11 em 2022?
Como mencionamos, o CID 11 adicionou muito mais informação sobre saúde mental, além de ter sido publicado no contexto de uma pandemia global. E esses dados fazem uma grande diferença na forma como as empresas funcionam.
Confira aqui alguns dos pontos de destaque da nova versão.
Resistência a antibióticos
A automedicação é cada vez mais fácil. Muitos remédios podem ser comprados sem prescrição médica, sem falar que muitas farmácias ainda fazem sua venda sem uma receita. O resultado é que a população recorre mais rapidamente a medicamentos, antes mesmo de fazer qualquer consulta. E mesmo quando têm uma receita, acabam fazendo um tratamento incompleto.
O que torna isso preocupante é que, de acordo com algumas pesquisas publicadas, essa prática pode estar criando bactérias e vírus mais resistentes a antibióticos. Se uma infecção não é tratada adequadamente, os antígenos ficam mais resistentes a futuros tratamentos.
E não podemos esquecer da COVID-19. Ter uma doença altamente contagiosa e resistente a tratamento é um grande risco à saúde pública. Por isso que os médicos enfatizam tanto a importância de terminar o tratamento por completo.
Transexualidade
Uma conquista muito importante no novo CID é com relação à transexualidade. Dentro do CID 10, ela era chamada de “distúrbio de identidade de gênero” e fazia parte da lista de transtornos mentais. No CID 11, o nome dado é “incongruência de gênero” e faz parte das condições relacionadas à saúde sexual.
Primeiro, já é um passo importante consolidar todas as pesquisas que comprovaram que a transexualidade não é nenhum tipo de transtorno mental. Segundo, essa mudança de definição também significa que pessoas transexuais podem ter acesso a tratamentos de transição, incluindo cirurgia e tratamento hormonal. Tudo isso coberto pelo SUS.
Distúrbio de jogos
A imagem de uma criança viciada em jogos eletrônicos, incapaz de funcionar em sociedade, já era exagerada desde sua concepção nos anos 1990. Hoje, videogames são um hobbie bem menos estigmatizado e podem ser parte de uma vida mental saudável. Mas, como qualquer coisa, ela exige moderação.
É aí que entra a definição para distúrbio de jogos do CID 11. Não se trata de uma pessoa que joga todos os dias ou que mesmo várias horas por dia, mas sim de um padrão de comportamento que interfere negativamente na manutenção de sua vida. Um streamer que joga 10 horas por dia como um trabalho não tem distúrbio de jogos. Alguém que deixa de trabalhar ou comer para jogar, sim.
Considerando que todos vivem cada vez mais cercados de tecnologia, dos computadores aos celulares, é mais fácil cair nessa armadilha. E com mais pesquisas sobre o assunto, a OMS já tem algumas orientações sobre como lidar com esse distúrbio.
Autismo
O autismo é uma das condições menos compreendidas pelo público geral. Quase todo o entendimento é superficial e mesmo alguns médicos não entendem direito como ela molda o cotidiano de uma pessoa. O primeiro avanço foi reconhecer que o autismo é um espectro, não uma característica binária. Mas isso também gerou mais confusão com relação ao diagnóstico e orientações para o tratamento.
Por isso que o CID 11 passou a enquadrar todas as suas variações em um diagnóstico guarda-chuva: o Transtorno de Espectro Autista, ou TES. Ainda existem subdivisões, mas agora elas são relacionadas apenas às dificuldades no desenvolvimento intelectual ou da fala.
Síndrome de Burnout
Um dos transtornos psicológicos que mais cresceram nos últimos anos é, sem dúvida, a síndrome de burnout. A melhor forma de entendê-la é como um estado de exaustão profundo e persistente, onde você se dissocia de todas as atividades do dia a dia. É especialmente associada às formas de trabalho no mundo atual.
É bem comum em várias carreiras que os profissionais tenham mais e mais exigências, com o trabalho consumindo quase todo o tempo do dia e até invadindo um pouco sua vida pessoal, levando ao esgotamento profissional. Algo agravado pela falta de seguridade e alta competitividade. Se o estilo de vida acelera demais, em algum momento você vai “queimar”.
Dentro do CID 11, o burnout está marcado como uma crise relacionada ao estresse crônico, não aos transtornos psicológicos, de comportamento ou de neurodesenvolvimento. Em outras palavras, é um problema que qualquer pessoa pode ter, independente de seu estado de saúde física.
Qual é a importância do CID 11 para sua empresa?
Lidar com as doenças de trabalho é, em grande parte, responsabilidade da empresa. Se você quer ver sua equipe sendo produtiva todos os dias, precisa oferecer um ambiente de trabalho que contribua com a sua saúde e bem-estar.
Não faltam histórias de negócios que impõem várias exigências e metas sem considerar como elas afetam o dia a dia dos colaboradores. Mas, a longo prazo, isso apenas piora seu desempenho, aumenta o absenteísmo e preudica a reputação do seu negócio.
O CID 11 oferece uma lista mais ampla de possíveis transtornos relacionados ao trabalho, além de dados, sinais e formas de lidar com eles. Ter essas normas em mente é fundamental para criar um ambiente de trabalho mais positivo para seus colaboradores.
Como promover o bem-estar da equipe?
Mesmo com toda a informação do CID 11, ainda resta saber o que fazer para responder a todos esses problemas. Afinal, a empresa precisa prezar pela saúde da equipe, de seu desempenho e também a satisfação do seu público.
Se estiver na dúvida, tente seguir essas orientações para começar.
Invista em ergonomia
A ergonomia é uma ciência que estuda a relação entre o corpo e as ferramentas que o ser humano usa. Começou como uma forma de estudar o uso das máquinas nas fábricas, mas hoje se aplica a todo tipo de tarefa e equipamento de uso cotidiano. Incluindo as cadeiras, mesas e computadores usados nos escritórios.
Conforto no trabalho não é um luxo, é uma necessidade. Passar muito tempo sentado em uma cadeira rígida, que força a musculatura e cria uma postura ruim, também vai afetar o bem-estar da sua equipe a longo prazo. O mesmo vale para o posicionamento de cadeiras e mesas, quais ferramentas são usadas no dia a dia, entre outras coisas do tipo.
Faça pesquisas de satisfação no trabalho
Muitos dos transtornos de saúde listados no CID 11 começam com algum problema pequeno, uma dificuldade cotidiana que passa despercebida. Coisas que afetam as relações no trabalho, na vida pessoal e na motivação da sua equipe. E quanto mais tempo eles passam a receber a devida atenção, maior é o risco que apresentam para a saúde do corpo.
A melhor forma de descobrir como sua equipe está se sentindo é apenas perguntar. Uma pesquisa de clima organizacional ou um feedback por parte dos colaboradores te dá bastante informação sobre o nível de satisfação dos colaboradores, quais são as dificuldades e como a empresa pode se posicionar para corrigir esses erros.
Facilite os vínculos entre colegas de trabalho
É difícil passar mais de 8 horas por dia no mesmo ambiente, com as mesmas pessoas, sem criar nenhuma forma de vínculo. E se não houver essa conexão, será mais difícil manter um relacionamento saudável dentro da equipe. Sendo assim, a empresa também precisa facilitar a formação e o fortalecimento desses vínculos no dia a dia de trabalho.
O famoso “happy hour” é um bom exemplo disso. Um espaço onde todos os colaboradores podem interagir sem a pressão de alguma tarefa ou de estarem dentro do ambiente de trabalho. Mas você pode ir além disso, criando espaços criativos dentro da empresa, promovendo a boa comunicação, entre outras coisas do tipo.
Claro, não é para exagerar e forçar essas relações. Tudo que você precisa fazer é facilitá-las e deixar que os colaboradores encontrem uma posição onde se sentem mais confortáveis.
Tenha metas realistas e engajadoras
O excesso de pressão é uma causa bem comum do burnout e de outros transtornos relacionados ao trabalho. Não adianta estabelecer metas mirabolantes se a equipe não tem como alcançá-las com o tempo e recursos disponíveis hoje. Porém, o mesmo acontece no extremo oposto desse espectro, quando não há nada que motive a equipe a se dedicar. Falta de envolvimento e tédio também são mentalmente cansativos.
A maior dificuldade é equilibrar esses dois lados. Conseguir metas que estejam dentro do alcance da sua equipe, mas que ainda demandem sua dedicação para serem alcançadas. Aí, quando todos chegarem no final do ano e virem o quanto conseguiram alcançar nos últimos meses, poderão se sentir orgulhosos de suas conquistas.
Promova o autocuidado
Você com certeza conhece alguém que abriu mão de seu tempo livre, hobbies ou até da própria saúde para se dedicar à sua carreira. E, claro, algumas metas precisam de 100% de energia para serem alcançadas. Mas ninguém consegue se manter muito tempo nesse ritmo sem adoecer.
É mais outra questão de equilibrar o pessoal e o profissional. E a empresa também tem um papel e tanto nesse ponto. Melhor do que apenas dizer para a equipe cuidar da própria saúde, você pode oferecer os recursos necessários, como dias para fazer consultas, palestras, materiais de apoio, acompanhamento psicológico interno, até a possibilidade de afastamento do trabalho por um tempo. Melhor do que comprometer a saúde a longo prazo.
Conscientize a equipe sobre saúde mental
Mesmo que você faça tudo que puder pelo bem-estar da sua equipe, cada indivíduo ainda precisa se cuidar por conta própria para manter a própria saúde física e mental. E nem todos estão devidamente conscientes do impacto que ela tem em suas vidas. É mais um ponto no qual você pode intervir para melhorar a qualidade de vida da equipe.
Você pode usar material educativo, palestras, entre outras coisas do tipo, para orientar a equipe sobre como agir para manter a própria saúde mental no dia a dia. Com acesso a mais informações, eles também podem se organizar por conta própria para equilibrar o trabalho e a vida pessoal.
As atualizações do CID 11 trazem vários alertas sobre a importância da saúde mental, especialmente no ambiente de trabalho. Se você quer uma equipe que se mantenha unida e produtiva por mais tempo, também precisa estar atento à saúde e ao bem-estar da equipe.
Quer continuar melhorando a qualidade de vida e a saúde da sua equipe? Então, veja nosso artigo com algumas práticas para promover o bem-estar dentro da empresa.
[…] A CID 10 foi publicada pela OMS em 1994, ou seja, ela já tem quase 30 anos. Por isso, houve a necessidade de fazer uma revisão para lançar uma nova versão. Assim, essa lista de classificação se tornou desatualizada em janeiro de 2022, quando foi lançada a CID 11. […]